Há neve no violino
Arrepio-me sempre que ouço um violino. É uma emoção impossível de descrever.
O violino é porventura o som mais doloroso, mais sofrido e mais doce que existe. Pelo menos para mim.
A dor que só ele sabe transmitir de uma forma terna. Serena.
A melodia desses soluços contorcidos por uma revolta infinita. Esses gritos silenciados por uma ancestral elegância.
Parece-me agora que se nasce e se morre com o violino.
A alegria do nascimento escapa-se por entre a felicidade daquele que será o primeiro choro.
E a dor da morte dissipa-se com o mesmo - e derradeiro - choro. Este já vivido. Já magoado.
E assim a chuva se me surge como a filha do violino.
O grito que se solta dessas lágrimas contidas que, ora lenta ora sofregamente, lhe saem das cordas.
A mãe é a neve. A neve muda. A neve protectora. A neve mãe.
Sim, é o - meu - cenário perfeito. Um manto de neve algures povoado pelo som de um violino.
Haverá maior pureza no mundo? Haverá maior conforto?
Amanhã não sei se ouvirei violinos ou se a chuva cairá.
Quando eu morrer - isso eu sei - quero ouvir violinos. Para que também eu possa ser um manto de neve.
Onde estás tu mãe? Só tu sabes que há neve no violino.